Em vídeo recente, morador relatou riscos a frequentadores de área de lazer; a partir de informações de especialista e da Secretaria de Meio Ambiente da cidade, entenda hipóteses sobre a chegada dos animais no local, se apresentam riscos e como funcionaria eventual remoção. Moradores filmam jacaré no Lago dos Biris, em Charqueada
A Prefeitura de Charqueada (SP) espera ter até o final do ano uma definição a respeito da remoção de uma população de jacarés-de-papo-amarelo que se instalou no Lago dos Biris. Além disso, a administração municipal informou que tem mantido uma equipe para monitoramento dos animais.
Um morador filmou um dos répteis às margens do lago e relata riscos devido à proximidade de uma pista de caminhada na área de lazer (assista ao vivo acima). No entanto, também há moradores contrários à remoção e a prefeitura diz que tem adotado medidas de segurança. Além disso, a administração afirma que alguns animais chegaram a ser alvo de ataques nos últimos meses.
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A seguir entenda o caso e detalhes sobre as medidas que vêm sendo adotadas pelo governo municipal:
Onde ficam os animais?
O Lago dos Biris é um reservatório artificial formado pelas nascentes do Ribeirão Charqueadinha, afluente do Rio Corumbataí.
O lago fica no meio da cidade e foi construído há mais de 50 anos. Nele, jacarés-de-papo-amarelo adultos, jovens e filhotes são vistos com frequência.
Moradores são contrários à remoção de jacaré de lago de Charqueada
Ronaldo Oliveira/ EPTV
De onde surgiram os jacarés?
Os animais chegaram ao lago há mais de dez anos. Secretário de Meio Ambiente de Charqueada, Marcelo Santos explica que a forma como eles chegaram é incerta, mas que há hipóteses de que chegaram naturalmente ou foram soltos por pescadores.
Segundo ele, há registro destes animais em diversos locais da região, como Águas de São Pedro; lago do Horto Florestal, em Rio Claro (SP); e em diversos trechos do Rio Corumbataí e do Rio Piracicaba.
Coordenador geral do Grupo Crocodylia Brasil, Luís Bassetti confirma a informação.
“Charqueada se encontra dentro da área de distribuição da espécie em questão, o Jacaré-de-Papo-Amarelo (Caiman latirostris). Neste sentido, dificilmente vamos saber se estes indivíduos adentraram no parque e começaram a utilizar seus recursos de forma natural ou foram introduzidos pelo homem”, explica.
Se migraram, o que os levou ao local?
Bassetti explica que crocodilianos não se estabelecem em áreas onde não tenham condições mínimas de sobrevivência.
“Em visita realizada ao local anos atrás, pudemos observar a presença de um ninho velho, além de vários juvenis e poucos animais adultos, indicando que ocorre, ou ocorreu, a reprodução naquele local. Isso é indicativo que estes animais conseguem, com certa facilidade, alimento, áreas de nidificação, áreas de assoalhamento (banho de sol), etc”, lista.
É comum ficarem em área urbana?
O especialista associa esse tipo de situação ao avanço da urbanização.
“Devido à expansão urbana, aproximação das cidades com a área rural e destruição do habitat, o encontro de crocodilianos com humanos no Brasil, de maneira geral, tem ocorrido com mais frequência”, explica.
Jacaré às margens do Lago dos Biris, em Charqueada
Ronaldo Oliveira/ EPTV
Essa situação foi tema de um artigo escrito por ele e outros colegas em 2021 (na tradução, “Conflitos entre humanos e crocodilianos em áreas urbanas do Brasil: uma nova abordagem para o manejo e conservação”).
O artigo traz a conclusão de que 57,3% dos encontros registrados estavam relacionados com a mesma espécie que ocorre em Charqueada.
Ele acrescenta que, atualmente, esses animais frequentemente encontrado em lagoas marginais, áreas de mangue brejos e pântanos. “Também coloniza facilmente ambientes alterados pelo homem, tais como estações de tratamento de efluentes, açudes para o gado, etc. Isso demonstra adaptação a uma nova realidade”, completa.
Quantos animais estão no local?
Segundo Santos, ainda não foi realizada essa contabilização, mas em breve será realizada a primeira campanha de demarcação, que é uma ação na qual esse tipo de dado será coletado.
Eles serão removidos do espaço?
No momento, estão sendo realizados estudos sobre a população destes animais presentes no lago, para que possam ser solicitadas ações de manejo deles junto ao Departamento de Fauna do Estado de São Paulo, que é o órgão responsável por esse tipo de intervenção.
“A prefeitura trabalha para remover os animais, mas depende da conclusão do estudo e da autorização do órgão, o que temos expectativa que seja concluído até o final do ano”, acrescentou o secretário.
Sobre a viabilidade ou não da remoção, Marcelo diz que ainda é cedo para uma definição, mas a pasta apurou que os animais maiores provavelmente serão remanejados para outro espaço.
“Temos três locais autorizados para um possível recebimento. Estes locais devem estar cadastrados junto ao Defau (Departamento de Fauna)”, detalhou.
ARQUIVO: Morte de jacaré em lago de Charqueada repercute nas redes sociais
Como funcionaria a remoção?
O coordenador geral do Crocodylia Brasil explica que o primeiro passo é realizar um levantamento sobre a população local, fornecendo relatório para os órgãos competentes.
A partir disso, caso seja necessário, realizar o manejo e envio desses animais para áreas de soltura ou empreendimentos de fauna que estejam aptos a recebê-los. Ele observa que, dificilmente, existem áreas naturais propícias para a sobrevivência de crocodilianos que já não estejam ocupadas por outras populações.
“A remoção desses animais é possível, porém, todas as etapas do licenciamento devem ser cumpridas para que a liberação pelo órgão competente ocorra”.
Eles oferecem risco à população?
Bassetti afirma que não há registro de acidentes graves relacionados com a espécie. “Infelizmente a curiosidade humana faz com que a proximidade e enfrentamento ocorram”, pondera.
Ele também detalha que a época de maior risco é a de reprodução, pois as fêmeas tendem a se tornar mais agressivas por um comportamento materno de proteção ao ninho. Isso ocorre, em nossa região, entre meados de novembro até meados de março.
E sugere que as pessoas que passam pelo local devem evitar:
Chegar próximo dos animais;
Passear com animais de estimação próximos da água ou dos jacarés;
Alimentar os jacarés;
Utilizar áreas próximas à água (margens) para descanso;
Nunca tentar realizar a captura desses animais.
Para o secretário de Meio Ambiente, os jacarés não apresentam riscos e, por outro lado, vêm sendo atacados.
“Há poucos meses tivemos um caso de esquartejamento de um animal em plena luz do dia. Também já tivemos diversas ocorrências de caça destes animais aqui, onde houve emprego de muita crueldade”, revela.
Lago dos Biris é formado pelas nascentes do Ribeirão Charqueadinha e fica no meio de Charqueada
Ronaldo Oliveira/ EPTV
A espécie está ameaçada de extinção?
De acordo com Bassetti, não há registros de diminuição do número de jacarés da espécie em vida livre.
“A espécie não se encontra na Lista Nacional da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Ministério do Meio Ambiente e é classificada como Menos Preocupante, a nível Global, pela União Internacional para a Conservação da Natureza”, detalha.
Quais medidas de segurança são adotadas?
Marcelo explica que a prefeitura possui equipe técnica treinada e equipamentos especializados para realizar a captura e devolver os animais para o lago.
“Eu mesmo lidero esta equipe, e permaneço 24 horas à disposição para resgatá-los em qualquer situação. Atendemos prontamente a população quando somos solicitados. A minha secretaria fica de frente para a portaria principal do lago, temos funcionários que zelam pelo local todos os dias da semana e cuidam para que não haja interação dos animais com a população que circula pelo parque”, garante.
Ele explica que as áreas de nidificação dos jacarés – locais onde constroem seus ninhos e onde empregam mais ações de proteção – ficam distantes das áreas de recreação do parque, estão cercadas e há placas de aviso.
“O vídeo que foi veiculado é uma situação normal aqui. Eles saem para tomar sol na margem do lago e logo retornam. Não saem para a pista de caminhada”, acrescentou.
Como relatar ocorrências com os animais?
Conforme o chefe da pasta, o contato pode ser feito com a Guarda Municipal, pelo número (19) 3486-1099.
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Prefeitura de Charqueada espera definição sobre remoção de jacarés de lago neste ano; entenda o caso
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