Conhecido pela tradição, Mercado Municipal é o local de trabalho de famílias inteiras. Comerciantes que dividem espaço relatam boa convivência e amizade. Mercadão de Piracicaba tem gerações de comerciantes e bancas com quase um século
O Mercado Municipal de Piracicaba (SP) é conhecido pela tradição, principalmente das bancas mais antigas – muitas das quais foram passadas por gerações até os dias atuais. Famílias inteiras que se criaram dentro do Mercadão e permanecem tocando os negócios até hoje.
É o caso da banca mais antiga, que tem 88 anos de existência e já está na terceira geração. Já a mais recente tem menos de um ano de existência, mas a dona garante que já se sente em família dentro do Mercadão.
Nesta semana, o g1 publica uma série de reportagens sobre o Mercado Municipal de Piracicaba. Construído em 1887 e inaugurado em 1888, o local foi palco para o surgimento de algumas das tradições mais antigas da cidade, que permeiam até os dias de hoje o cotidiano dos piracicabanos.
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Açougue de 88 anos
Maura Usberti é a responsável por tocar os negócios do açougue que começou com seu avô, em 1935. Na época, ele era um dos donos do único frigorífico da cidade e decidiu abrir seu açougue dentro do Mercadão – e o negócio prosperou, passou para o filho e depois para a neta dele.
“O meu pai gostava do que fazia. Ele passou para a gente esse amor que ele tem pelo comércio, pelo açougue, pelo mercado… Nós crescemos convivendo com esse amor, então a gente acaba amando também”, afirmou Maura.
Banca mais antiga do Mercado Municipal de Piracicaba tem 88 anos de existência
Caroline Giantomaso/g1
O casal Marcos e Cristina Araújo atualmente tocam a banca de chocolates que o pai dela inaugurou há 61 anos. Eles contam que, na época, o pai e Cristina soube que o dono do local queria vender o box e se comprometeu a comprar, mas não tinha dinheiro para pagar.
“Ele foi para a casa dele e conversou com o pai, meu avô, e falou que ia comprar a banca, mas não tinha dinheiro. Meu avô falou ‘eu também não, mas nós temos a casa, vamos hipotecar’. Ele entregou tudo na mão do meu pai que tinha 22 anos, não conhecia o negócio, e falou assim ‘essa é a sua oportunidade, se você perder a gente perde onde morar também’. Meu pai agarrou aquela oportunidade e dela se passaram 61 anos”, relembrou.
Atualmente, os filhos do casal também trabalham no local e veem um futuro tocando a banca, assim como fizeram seus pais.
Natália Fava toca banca de frutas no Mercado Municipal de Piracicaba
Caroline Giantomaso/g1
A história de Natália de Oliveira Fava, que atualmente administra uma banca de frutas, começou antes mesmo de ela nascer. Seus pais trabalhavam em bancas no Mercadão, se conheceram por conta disso e se casaram. Desde que nasceu ela frequenta o local e não se vê fora de lá.
“É onde tudo surgiu, onde eu conheci tudo. É de onde eu tiro meu sustento, é onde eu consegui as coisas que eu tenho hoje. É primordial”, afirmou.
Já Maurício Munhoz conta que comprou a banca com um sócio há 13 anos como uma forma de completar a renda na época. No fim, o negócio prosperou e ele agora não se vê fazendo outra coisa. “Eu não consigo mais ficar um dia sem vir aqui, independente se venho para trabalhar ou para passear”, ressaltou.
Em família
Vadi Libardi começou no Mercadão há 48 anos. Na época ele era funcionário de uma banca, viu uma oportunidade de comprar um espaço e decidiu fazer isso – mesmo sem ter o dinheiro necessário. Ainda assim, “se virou” com o pagamento e montou uma banca de frutas – que prosperou.
Marília Libardi toca banca de doces artesanais ao lado do pai no Mercado Municipal de Piracicaba
Caroline Giantomaso/g1
“É muito bom. O mercado é só amizade”, disse. Anos depois se casou e teve filhos – que cresceram frequentando o Mercadão.
A banca de frutas virou uma banca de doces artesanais que faz sucesso, agora sob o comando da filha Marília Libardi, que guarda boas memórias da infância pelos corredores do mercado.
“Eu nasci aqui dentro do Mercado […] Eu perdi a conta de quantas vezes eu brinquei de esconde-esconde aqui dentro. Eu entrava na banca dos outros e passava a tarde. Em uma banca de mel que uma prima trabalhava eu passava a tarde, ela fazia minha unha. Era bem caloroso”, contou.
“Ela ia no Barão, na escola, com seis aninhos e depois vinha aqui. Eu ensinava a vender”, lembrou o pai.
Marília também afirma que enxerga o Mercadão como uma família, que já conhece os clientes e os colegas permissionários. “A maioria das pessoas que vem aqui me conhecem desde que eu nasci. A gente tem um contato bem afetivo”, relatou.
Mercado Municipal de Piracicaba
Caroline Giantomaso/g1
O futuro do Mercadão
Uma coisa em comum tem todos os comerciantes, dos mais antigos aos que abriram o negócio há pouco tempo: a persistência. A rotina do Mercado Municipal, que abre 365 dias por ano, não é fácil. O trabalho é pesado e cansativo e começa de madrugada, com as portas abrindo às 6h todos os dias.
Dulcineia Amador, que abriu uma banca de sorvetes há alguns meses, diz que em pouco tempo já se sente em família e gosta muito de trabalhar lá – mesmo com a rotina cansativa. Apesar de ter começado “quase agora”, ela vê um futuro próspero para o Mercadão.
“Eu desejo mais 135 anos e que continue sendo esse ambiente gostoso de trabalhar. E que seja sempre acolhedor”, afirmou.
Já Marília vê o Mercado progredindo ainda mais: “Se ele continuar nesse progresso que teve nos últimos anos, para mim é sensacional. Nós evoluímos muito”, disse Marília. “O mercado não perde a tradição, quem gosta de vir, vem e vai continuar vindo”, completou o pai dela, Vadi.
“Eu espero que as pessoas continuem trazendo seus filhos e seus netos para frequentar o mercado”, disse Maura, que comanda a banca mais antiga.
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