Equipamentos e sistema de rastreamento dos veículos por central de monitoramento estão previstos em edital de licitação do transporte público da cidade, que foi publicado em dezembro de 2021, mas suspenso pela Justiça novamente no início do mês. Local onde aconteceu o ataque, em uma das principais avenidas de Piracicaba
Edijan Del Santo/ EPTV
Um ano após um ataque dentro de um ônibus deixar três pessoas mortas e outras três feridas, em Piracicaba (SP), a instalação de câmeras de monitoramento nos coletivos da cidade e sistema para rastrear a localização deles, prometidos para aumentar a segurança no transporte público, ainda não ocorreu.
Já o processo criminal contra o autor do crime, que foi preso logo após realizar o ataque, está travado há dez meses na fase de avaliação psiquiátrica do réu (leia no final da reportagem).
LEIA MAIS:
Vídeo mostra momento em que suspeito se rende após o crime
‘Todo mundo gritando desesperado’, diz passageira do coletivo
Autor escolheu vítimas aleatoriamente e sem motivação, diz Polícia Civil
Mulher vítima de ataque deixa hospital
Após ficar em estado grave, jovem tem alta e volta para casa
Após o ataque, passageiros relataram insegurança na linha onde aconteceu o atentado e cobraram medidas como monitoramento 24 horas e presença de um segurança dentro de cada coletivo.
A instalação das câmeras em todos os coletivos e do sistema de rastreamento, para acompanhamento deles em tempo real pela pela Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (Semuttran), no entanto, não tem prazo para ocorrer.
As medidas estão previstas no edital de licitação para concessão do transporte público da cidade, lançado em dezembro de 2021. Desde então, o procedimento teve suspensões devido a contestações administrativas e judiciais de empresas e solicitações de correções feitas pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP).
Judicialmente, a licitação chegou a ficar paralisada entre abril e agosto de 2022 e, no último dia 5 de junho foi novamente suspensa em decisão favorável a uma empresa que perdeu a concorrência para a Rápido Sumaré. O início da operação da contratada e instalação dos sistemas de segurança, agora, dependem de uma nova decisão judicial que volte a liberar a conclusão da concorrência.
Questionada pelo g1, a prefeitura não respondeu a respeito da estrutura de segurança disponível atualmente no serviço de transporte público até a última atualização desta reportagem.
Em julho de 2022, a administração informou ao g1 que todos os seis terminais de integração do município têm guardas durante 24 horas e câmeras de monitoramento.
Também apontou que os terminais têm controle de entrada e que solicitou à empresa que mantenha treinamentos de motoristas em caso de emergências nas vias públicas.
A viação Tupi, que opera emergencialmente o transporte público da cidade desde maio de 2020, informou que não vai se manifestar.
Ônibus onde o crime ocorreu, na Avenida Armando de Salles Oliveira, em Piracicaba
Claudia Assencio/ g1
‘Caso raro’, aponta presidente de sindicato
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano de Piracicaba e Região, João Soares diz não haver registros de casos de agressão a motoristas nos ônibus ou nos terminais de embarque de passageiros.
“Aquele [atentado em 21 de junho de 2023] foi um caso raro que aconteceu. A gente está dia a dia com os motoristas e até agora a gente não viu uma falta de segurança, porque esse fato que aconteceu aqui em Piracicaba, eu estou há 34 anos, eu nunca vi acontecer um episódio desse que aconteceu”.
Sobre a implantação das câmeras, o presidente da entidade diz que tudo depende da conclusão da licitação.
“Ela [empresa vencedora da licitação] não tem um contrato assinado ainda, né. Então, na hora que os carros novos entrarem, aí vão ser implantadas as câmeras e tudo. Mas, por enquanto, não tem condição porque não foi assinado nada […] Eles têm que colocar câmeras em todos os carros que circulam dentro da cidade”.
Ataque em ônibus deixa três pessoas mortas em avenida de Piracicaba
O ataque
O ataque ocorreu às 15h15 do dia 21 de junho, em um coletivo da linha Centro/Vila Sônia, quando o veículo estava na Avenida Armando de Salles de Oliveira, uma das principais da cidade, nas proximidades do cruzamento com a Rua Regente Feijó, no segundo ponto após saída do Terminal Urbano da cidade.
De acordo com uma passageira, o autor do crime, que tem 52 anos, saiu do terminal em silêncio e, repentinamente, começou a desferir as facadas. Imagens que circularam em redes sociais mostram o homem realizando os ataques e PMs chegando ao local para rendê-lo e realizar a prisão.
Segundo a delegada Juliana Ricci, da Divisão Especializada em Investigações Criminais (Deic), ele já tinha uma passagem pela polícia.
“Até o que a gente tem de informação dele, ele não tinha nenhuma motivação pra ter feito o que fez e o pronto atendimento da Polícia Militar minimizou os danos, porque sem uma intervenção pronta, com certeza teria feito mais vítimas”.
Ela também revelou que ele não tinha nenhum vínculo com as vítimas. “Elas foram escolhidas de forma aleatória. E as informações que nós temos é que ele reside sozinho”.
Vítimas do ataque em ônibus de Piracicaba, da esquerda para direita, Roseli Ramalho Ferreira, 55 anos; Valdemar da Silva Venâncio, 68 anos e Adriana Coelho da Silva, 42 anos
Arquivo pessoal/Montagem g1
A delegada ainda informou que ele apresentava falas desconexas quando foi preso, mas que ainda não era possível dizer se estava sob efeito de alguma substância à época da prisão.
“Ele embarcou no terminal central e quando saiu para a [Avenida] Armando Salles ele começou o ataque. Daí uma viatura que ficou parada no cruzamento da XV de novembro e Armando Salles percebeu a gritaria e o pedido de socorro. Aí a gente se mobilizou para tentar fazer a abordagem”, relatou Gilberto Ferreira Algarra, 1º Tenente da PM.
De acordo com o militar, o homem se rendeu, mas estava alterado.
“As pessoas estavam em estado de choque, horrorizadas, não conseguiam mal se comunicar com a gente. O próprio indivíduo que fez o ataque era inviável conversar com ele”.
Homem mata três pessoas a facadas dentro de ônibus do transporte coletivo em Piracicaba
Pedido de nova avaliação psiquiátrica
O autor do ataque deverá passar por novo exame de avaliação psiquiátrica, segundo decisão da Justiça. Esse é o segundo pedido oficial de laudo para atestar qual é condição mental do réu.
A solicitação se baseou em incoerências apontadas pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) em laudo pericial anterior. Na decisão, o juiz pede que o exame seja feito por outros peritos do Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (Imesc), diferente dos profissionais que realizaram a perícia anteriormente.
De acordo com o representante do MP, o promotor Aluísio Antonio Maciel Neto, o juiz acolheu pedido do Ministério Público que impugnou o laudo de insanidade mental apresentado em razão de incoerências constatadas pelo setor técnico de psiquiatria do MP.
A Promotoria também sugeriu a possibilidade de participação do setor técnico do MP no acompanhamento da perícia. “Nós precisamos ter a certeza do quadro psiquiátrico do acusado a fim de que eventual decisão judicial – de pena ou aplicação de medida de segurança – não resulte em injustiça”, justifica Maciel Neto.
“Se aplicada a medida de segurança, sem que haja a definição concreta de doença mental permanente, em poucos anos – um a três anos – ele pode ser colocado em liberdade e não haverá mais nada a ser feito”, conclui o promotor.
Momento em que agentes de trânsito bloqueiam o trânsito em avenida de Piracicaba, após atentado em ônibus
Claudia Assencio/ g1
Câmera de segurança de central de monitoramento flagrou ônibus circulando e parando durante ataque
Reprodução/ Cemel
Três pessoas morreram no local e três foram socorridas com vida, segundo a PM
Claudia Assencio/ g1
VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região
Veja mais notícias no g1 Piracicaba
Um ano após ataque com 3 mortos em ônibus, coletivos de Piracicaba seguem sem câmeras prometidas para reforço em segurança
Adicionar aos favoritos o Link permanente.