Ministério Público abre investigação após vereador de Piracicaba relatar oferta de propina para votar contra cassação do prefeito


Paulo Campos (Podemos) não apresentou provas, nem relatou quem teria feito proposta ou se denunciou oficialmente o caso. Vereador citado nega ter testemunhado oferta de propina, enquanto a prefeitura afirma que, se há denúncia, parlamentar deve formalizar na Justiça. Vereador relata ter recebido proposta de propina para votar contra cassação de prefeito
O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) informou nesta quarta-feira (21) que vai investigar o relato do vereador Paulo Campos (Podemos), de Piracicaba (SP), durante a sessão da Câmara da segunda-feira (19), de que recebeu oferta de propina para que votasse contra a comissão de cassação do prefeito Luciano Almeida (sem partido). O parlamentar não informou quem teria feito a proposta e nem apresentou provas durante a reunião ordinária.
Durante a sessão, após um requerimento do parlamentar não ter sido aprovado, ele criticou o governo municipal e disse que falaria “uma bomba”. Ele relatou que recebeu a proposta no dia da votação da comissão que ia avaliar a cassação do prefeito, que foi rejeitada pelos vereadores.
Campos afirmou que estava no estacionamento da Câmara, junto com o vereador Zezinho Pereira (União Brasil), quando foi abordado por alguém oferecendo dinheiro para que votasse contra a cassação do prefeito. Ele disse que recusou a proposta, assim como o outro parlamentar que o acompanhava.
Ele não detalha, porém, quem fez essa abordagem e se fez uma denúncia sobre o assunto. Também não diz se tem provas sobre o crime. Confira a fala na íntegra transcrita abaixo:
“Vou trazer uma informação que vai ser uma bomba. Zezinho Pereira estava comigo. Nós estávamos no estacionamento da Câmara, quando chegamos aqui no dia da votação do pedido da cassação do senhor prefeito Luciano Almeida […] Ofereceram propina para mim e para o vereador Zezinho Pereira para que nós votássemos contra a cassação do senhor Luciano Almeida. Esse vereador nunca pegou e nunca vai pegar [propina]. Importante que fique registrado, já que é para ir para o embate, eu tenho testemunhas. Parou a mim e parou ele e ofereceram dinheiro para que nós votássemos contra. Eu falei ‘não, meu amigo, não aceito proposta, nunca precisei’. Estou pegando dinheiro de agiota, mas nunca peguei e nunca vou pegar [propina]. E não tenho medo, se quiser vir para cima pode vir que eu não tenho medo. É muito grave o que está sendo falado, então que fique registrado.”
Antes de falar sobre a proposta, Paulo Campos criticou o governo municipal de várias formas e chegou a dizer que “esse é o pior prefeito da história de Piracicaba.”
Ele também criticou a administração sobre a gestão de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) por meio de Organizações Sociais de Saúde (OSSs), o que vai passar a ocorrer em julho, quando a OSS vencedora de um chamamento público assume. A contratação é alvo de questionamento do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP).
“Foi instaurado procedimento investigatório visando apurar os fatos e os vereadores que teriam recebido a proposta ilícita serão notificados a comparecer à Promotoria de Justiça para prestarem depoimento formal”, informou a Promotoria ao g1, nesta quarta-feira.
A Prefeitura de Piracicaba informou que, se há alguma denúncia, o vereador deve formalizá-la na Justiça para que seja averiguada.
Sessão da Câmara de Piracicaba em 19 de junho de 2023
Guilherme Leite/Câmara
Vereador citado nega ter testemunhado oferta de propina
Também nesta quarta, Zezinho negou ter testemunhado oferta de propina. Em nota, ele diz que foi procurado por várias pessoas, inclusive secretários da administração, no dia da votação da comissão que ia avaliar a cassação, mas não citou proposta de propina.
Ele negou ter participado de encontro no estacionamento na Câmara, onde teria ocorrido a oferta de propina, mas diz que acredita que possa ter ocorrido de forma individual com o outro parlamentar.
“Outro ponto que me causa estranheza, é de que houve reunião no estacionamento da Câmara Municipal, com vereadores, contudo tal evento não ocorreu. Acredito que possa ter acontecido conversas individuais, acredito nisso até porque se tratava de uma votação muito relevante para todos da cidade de Piracicaba.”
Ele disse também que chegou a participar de uma reunião convocada pelo prefeito, com o Chefe de Gabinete e advogado. “O que se foi falado é que o prefeito prometeu que iria atender as demandas do gabinete apenas aqueles que votassem contra o recebimento, ensejando assim que qualquer voto contrário aos seus interesse seriam tratados como oposição, e assim sendo não seriam atendidos”, diz trecho da nota.
O parlamentar diz que informou que não votaria a favor dos interesses do prefeito porque em uma enquete feita com a população o resultado concordava com a cassação dele.
A Câmara de Vereadores disse em nota que aguarda o posicionamento formal do vereador Paulo Campos, com informações detalhadas sobre o denunciado por ele. “A partir disso, a Câmara verificará quais providências poderão ser tomadas e os possíveis encaminhamentos que serão realizados.”
Paulo Campos não retornou às várias tentativas de contato da reportagem.
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