Com greve de roteiristas, próxima temporada de Grey’s Anatomy pode ser mais curta, revela brasileiro que integra equipe


Roteirista de Piracicaba, Beto Skubs conta que últimos episódios da 19ª temporada foram finalizados um minuto antes da greve. Paralisação ocorre para reivindicar melhoria em salários. Skubs (com fones de ouvido) nos bastidores da gravação da série Grey’s Anatomy
Beto Skubs/ Arquivo pessoal
A equipe de produção de Grey’s Anatomy conseguiu terminar os dois últimos episódios da 19ª temporada da série, em exibição, um minuto antes da greve de roteiristas de cinema e televisão de Hollywood começar, à meia noite de terça-feira (2).
A paralisação ocorre após o fracasso nas negociações entre Sindicato dos Roteiristas da América (WGA, na sigla em inglês) com estúdios de streaming por melhores salários e pagamentos residuais.
Beto Skubs, brasileiro que integra a equipe de escritores da série médica, afirma que se a greve durar mais que um mês, a produção dos episódios da 20ª temporada, que já foi renovada, pode atrasar e durar menos devido aos impactos da paralisação, que afeta toda a indústria audiovisual.
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“Se a greve for longa, vai refletir no tempo de produção dos próximos episódios. Então, pode ser que esta nova temporada de Grey’s Anatomy seja mais curta”, revelou ao g1.
A greve afeta a indústria e impacta toda a cadeia, inclusive os empregos diretos e indiretos que são gerados pelo setor.
“Se não tem roteiro, não há que o que produzir e filmar. Todo mundo para de trabalhar e isso impacta toda a cadeia, a equipe técnica, quem serve a comida, as locações, a construção dos móveis para cenários, marceneiros, eletricistas, para tudo”, explicou Skubs.
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“Está nas mãos dos estúdios de não deixar isso acontecer. Ninguém quer isso”, ponderou.
“Trabalhamos, literalmente, até as 23h59 do dia 1º de maio porque, à meia-noite do dia seguinte, começou a greve da nossa categoria. Tivemos que parar de fazer os últimos ajustes, pelo menos da parte que tem a ver com o roteiro, mas deu para finalizar os episódios 19 e 20”, detalhou.
“Do mais, não posso fazer mais nada até a greve acabar e ela pode durar meses”, ressaltou.
A última greve de roteiristas de Hollywood, ocorrida entre 2007 e 2008, durou mais de cem dias e o prejuízo para cidade de Los Angeles foi de cerca 2,1 bilhões de dólares. Os profissionais, agora, também reivindicam os chamados pagamentos residuais, uma espécie de direito por exibições em casos de reprises das produções em outros canais, por exemplo.
Beto Skubs nos estúdios de gravação de Grey’s Anatomy
Beto Skubs/Arquivo pessoal
Impactos da revolução do streaming
Beto Skubs explicou que a greve é motivada, principalmente, pela revolução que as plataformas de streaming proporcionaram. Antes disso, segundo ele, o contrato para remunerar o roteirista de televisão foi feito em uma época em que existiam, em média, cinco emissoras e as séries eram feitas com cerca de 20 ou 25 episódios.
“Hoje, com o streaming, isso mudou. Às vezes, uma série tem seis, oito ou dez episódios. Os profissionais, geralmente, ganham por capítulo ou por semana, sendo que um episódio precisa ser feito em duas semanas no máximo. Nesse caso, fica difícil do roteirista pagar o aluguel. Ele precisa buscar serviços, bicos mesmo, em outras áreas para se manter”, disse.
Além disso, segundo Skubs, parte da remuneração do roteirista é do chamado “residual”, que é uma espécie de royalties por reutilização do programa ou do episódio em outras plataformas ou reprises em outros canais. Esse valor é calculado de acordo com a audiência.
“No caso da plataformas não tem isso. O streaming se recusa a fornecer o número de quantas pessoas assistem e quantos assinantes. Não há como quantificar a audiência para aferir um valor justo dessa cobrança. O movimento oferece propostas para resolver essa questão, para pagar o roteirista pelo tempo dedicado à produção e pela criação dele mesmo, em si”, lamentou.
Beto Skubs aguarda os desdobramentos da greve e espera por um acordo entre a categoria e os estúdios.
“Que seja daqui a duas semanas, dois dias ou três meses. Não vai dar para parar sempre. Nossa reivindicação é muito razoável. No ano passado, oito CEOs de grandes estúdios de streaming ganharam 800 milhões de dólares somente de bônus salarial. O que estamos pedindo seria um ganho de, aproximadamente, 400 milhões de dólares. É metade do que ganharam”, comparou.
O roteirista de Piracicaba terminou com um apelo. “Está nas mãos deles pagarem um salário, minimamente, justo para ter uma vida minimamente decente para fazer o conteúdo que gerou para eles 29 bilhões de dólares de receita em 2022”, finalizou.
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