Campeã brasileira de aquathlon começou a nadar a pedido médico e aos 71 compete em mundiais: ‘No mar, descobri outra vida’


Em conquista mais recente, atleta de Piracicaba (SP) subiu ao pódio pela medalha de bronze na 1ª Prova do Circuito Nacional de Águas Abertas da Madeira, em Portugal, nos dias 6 e 7 de maio. Atleta começa no esporte após os 60 anos e conquista campeonato brasileiro de aquathlon
“Há mares que vem para o bem”. Para a atleta de Piracicaba (SP), Luise Marta Bauch, de 71 anos, essa frase deixa de ser só um trocadilho com o conhecido ditado popular porque é no mar que ela soma vitórias em competições mundiais pela seleção brasileira de aquathlon. E, além disso, muito orgulho pela própria trajetória e amor pelo que faz. (Veja vídeo acima)
“Hoje, a natação é a minha vida. Eu como direito por causa desse esporte, eu durmo cedo por causa dele. Para mim, foi a descoberta de uma outra vida, muito diferente daquela que eu tinha anteriormente. E isso me dá o maior prazer. Curto demais fazer o que eu faço”, celebrou.
Em sua mais recente conquista em competições, a atleta subiu ao pódio para receber a medalha de bronze na 1ª Prova do Circuito Nacional de Águas Abertas da Madeira Island Ultra Swim (da Mius), em Porto Santo, ilha no arquipélago de Madeira, em Portugal, nos dias 6 e 7 de maio deste ano.
Nesse circuito, Luise disputou na categoria para atletas acima de 55 anos e nadou por cinco quilômetros no mar durante duas horas e vinte e dois minutos.
“Foi a prova mais difícil que já participei na minha vida e, por isso, foi muito legal ficar com o bronze na competição de águas abertas. Escolhi essa prova por ser no meio do Oceano Atlântico, por estar na rota de Pedro Álvares Cabral e por tantas outras coisas”, orgulhou-se.
Luise Marta Bauch, de Piracicaba, é atleta de aquathlon, compete em águas abertas e soma medalhas em mundiais.
Claudia Assencio/g1
O esporte entrou na vida da de Luise, por recomendação médica, quando ela tinha 61 anos, após apresentar problemas de saúde decorrentes de um quadro de estresse no trabalho.
Naquela época, Luise – que também é arquiteta e especialista em gestão ambiental – administrava, junto ao marido, uma empresa de consultoria e certificação florestal.
Ela coordenadora de um projeto na Amazônia, com madeira legal e aporte internacional da Holanda.
“Era um trabalho importante demais, mas também tremendamente estressante. Passava pelo Maranhão até chegar no Mato Grosso, passava pelo Acre e Rondônia. O projeto tinha desafios, tanto de logística quanto de atuação profissional. Aí, entrei num processo de estresse muito grande”, detalhou.
Luise Marta Bauch, atleta de aquathlon, ganha medalha de bronze na na 1ª Prova do Circuito Nacional de Águas Abertas, da Madeira Island Ultra Swim (Mius), em Portugal.
Luise Martha Bauch/Arquivo pessoal
A saúde de Luise também a desafiava. Após procurar um médico, os exames deram todos alterados e ela sentia muitas dores.
“O médico me disse: ‘olha, nenhum deles está dentro de algum parâmetro. Nem posso dar a você remédio para alguma coisa porque está tudo ruim’. A única receita que ele me deu foi praticar algum esporte e voltar dali a três meses para novos testes, lembrou.
Atleta Luise Martha Bauch durante treino no Clube de Campo de Piracicaba
Claudia Assencio/g1
Luise pensou que não conseguiria iniciar uma rotina de esportes, mas o médico não deu outra alternativa. “Se vira, ele me falou”, lembrou brincando. Ela, então, escolheu se dedicar à corrida por entender que aquela era a modalidade mais simples de se fazer.
Não necessitava mais do que um tênis e um shorts, pensou Luise. “Só que, com 61 anos, correr não foi fácil. Mas fui aumentando as distâncias, comecei a competir na cidade e no interior paulista pelo Sesc”, contou. “Isso foi me dando muito mais entusiasmo”, disse.
Até que dois anos depois, Luise machucou o joelho e precisei parar de correr. A atleta voltou ao médico e o ortopedista a recomendou nadar.
Luise Marta Bauch entre o treinador e professora de natação do Clube de Campo de Piracicaba, Reinaldo Rosa e Rosemary Braga
Claudia Assencio/g1
Luise nunca tinha entrado em uma piscina, não sabia nadar direito. Ali foi o começo de tudo. Mais um desafio para ser vencido. Tempo depois, ela já distâncias maiores dentro da água, aí eu corria e nadava.
Travessia
Um dia o técnico do Clube de Campo, onde treina até hoje, perguntou a Luise se ela nadava no mar porque estavam precisando de um competidor para o revezamento na prova de Ilha Bela. Era um quilômetro de nado em águas abertas. Mais uma vez, a atleta aceitou o desafio.
“Descobri o que eu gosto, eu gosto do mar. Nadar no mar é uma coisa muito diferente de piscina. Depois disso, nunca mais competi em piscina. Eu treino em piscina, mas eu faço competição apenas em águas abertas, rio, lago, mar”, explicou.
Atleta de Aquathlon, Luise Marta Bauch, de 71, anos conquistou a medalha de bronze na 1ª Prova Circuito Nacional de Águas Abertas, da Madeira Island Ultra Swim (Mius), em Portugal.
Luise Marta Bauch/Arquivo pessoal
Em 2017, Luise estava em Brasília durante visita à casa dos filhos e netos. Um técnico a viu durante um treino diário, andando e nadando, e oferceu uma das vagas para a seleção brasileira de aquathlon.
“Ele me perguntou se eu não fazia aquathlon. Eu não tinha ideia do que era. Então, me explicou que se tratava de uma modalidade que mistura natação e corrida, um quilômetro nadando e cinco correndo. Pensei, é fácil. – Não é não, viu”, se corrigiu Luise. “Mas, não me cutuque com uma coisa dessas”, comentou com seu bom humor de costume.
Atleta de Aquathlon Luise Marta Bauch, natural de Piracicaba, durante prova em águas abertas no Arquipélago de Madeira em Portugal.
Luise Martha Bauch/ Pedro Vasconcelos/Arquivo pessoal
Luise aceitou o convite e iniciou uma sequência de treinos mais pesados para se preparar. Conseguiu a pontuação exigida para integrar a seleção brasileira de aquathlon. Aos 65 anos, foi convocada ao Penticton ITU Multisport Championship Festival, em Penticton, no Canada. A atleta garantiu o 8º lugar e competiu com outras 20 mulheres americanas e neozelandesas.
“Eu, mãe, avó, que nunca tinha feito esporte. De repente me vem um uniforme da seleção brasileira para eu usar no Canadá. Hoje não me vejo fazendo outra coisa”, garantiu.
Outros campeonatos
Além do prêmio mais recente em Portugal em maio de 2023, Luise foi campeã brasileira de Aquatlon em 2018 e já participou de outros três mundiais.
A atleta é a única latino-americana na faixa etária a participar de um campeonato mundial por três anos consecutivos. O primeiro foi no Canadá, em 2017, depois na Dinamarca, em 2018, e na Espanha, em 2019).
Luise Marta Bauch, atleta de aquathlon, durante treino diário no Clube de Campo de Piracicaba
Claudia Assencio/g1
Luise Marta Bauch mostra as anotações com as séries do treino diário de natação em clube de Piracicaba
Claudia Assencio/g1
Treinos diários
O histórico de sucesso na natação tem uma razão, aquela comum aos atletas de elite e alto rendimento: manter a disciplina e persistência.
Por dia, são 2,5 mil metros de natação em uma piscina semiolímpica, de 25 metros, do Clube de Campo de Piracicaba, onde – faça chuva, frio, neblina ou sol – a atleta estará para cumprir a rotina de treinos e exercícios.
Medalhe de bronze e ramalhete de flores recebidas por atleta Luise Marta Bauch pelo 3º lugar na 1ª Prova Circuito Nacional de Águas Abertas, da Mius (Madeira Island Ultra Swim).
Luise Martha Bauch/Arquivo pessoal
Luise recebe planilhas mensais do técnico e conversa com ele todos os sábados sobre os treinos semanais. A rotina de exercícios deixaria os mais sedentários cansados só de ouvirem a descrição das séries alternadas entre nado crawl, braço, pé de pato, pernas. Tudo anotadinho no papel e gravado na cabeça.
“A cada quinze dias, eu mando um vídeo para meu técnico ver como estou nadando. Todo dia, são 300 metros, sendo 150 metros de nado crawl e 150 metros de braço. Depois tem os exercícios de perna, com pé de pato e outros”, detalhou.
Bastou a reportagem insinuar um registro do salto de Luise na piscina que a atleta, humilde, fez questão de esclarecer:
“Já adianto, meu pulo é terrível porque no mar a gente entra andando. Só aprendi dar esse salto por conta do campeonato brasileiro, no ano passado. Eu só treino em piscina, meu esporte é no mar”, reiterou.
Luise leva as anotações do treino diário que pratica todos os dias no Clube de Campo de Piracicaba
Claudia Assencio/g1
As tantas travessias que Luise fez na vida combinam com a sua escolha pelo mar. Como ela mesma explica:
“Na piscina, é sempre a mesma água, a mesma temperatura, sempre a mesma coisa. Enquanto que, na maratona aquática, se tem o vento, se tem a chuva e tantos outros imprevistos que faz o nadar no mar ser maravilhoso”, comparou.
Luise Marta Bauch conquista medalha de bronze em travessia marítima de Portugal
Pedro Vasconcelos/Arquivo Pessoal
Além das conquistas esportivas, Luise se vê como um exemplo de incentivo às mulheres com mais de 60 que desejam iniciar a prática esportiva. A atleta destaca que, hoje, não saberia viver outra vida e nem se lembra mais do que é tomar um remédio sequer.
“Foi fácil? Claro que não”, respondeu. E para resumir toda travessia da atleta há um outro ditado popular: Mar calmo nunca fez bom marinheiro. E de mar, Luise entende bem.
Luise treina todos os dias em uma piscina semiolímpica do Clube de Campo de Piracicaba
Claudia Assencio/g1
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