Referência em arquitetura e pioneirismo nos negócios: entenda a importância do Mercadão de Piracicaba para o interior de SP


À época da inauguração, eram poucos os municípios com um mercado público e o modelo de negócio já mostrava uma ideia visionária do que se tornaria popular apenas no século XXI. Mercadão de Piracicaba foi modificado em 135 anos, mas mantém estrutura original
A construção do Mercado Municipal de Piracicaba (SP) não só foi um marco importante para a história da cidade, como virou referência para o interior de São Paulo. À época, eram poucos os municípios com um mercado público e o modelo de negócio dos comerciantes que ali se instalaram já mostrava uma ideia visionária de algo que se tornaria popular apenas no século XXI.
O g1 publica, ao longo dessa semana, uma série de reportagens sobre o Mercado Municipal de Piracicaba, que completa 135 anos nesta quarta-feira (5). Finalizado em 1887 e inaugurado em 1888, o local foi palco para o surgimento de algumas das tradições mais antigas da cidade, que permeiam até os dias de hoje o cotidiano piracicabano.
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Arquitetura
A arquitetura original do mercadão chamava atenção desde a inauguração, em 1888. Segundo o diretor do Departamento de Patrimônio Histórico da Prefeitura de Piracicaba, Marcelo Cachioni, o Mercado Municipal sofreu várias modificações desde então, mas manteve parte das características originais.
“O mercado quando foi inaugurado tinha características bastante diferentes do que nós encontramos hoje. Um prédio basicamente se resumia ao núcleo central, tinha um frontão. Era um prédio com características industriais, com alvenaria aparente. Tinha apenas nove compartimentos, com um chafariz central. As partes laterais eram abertas”, contou.
Reforma do Mercado Municipal de Piracicaba na década de 1950
Câmara de Vereadores
Segundo Cachioni, no interior do mercado havia um tipo de comércio e nas partes abertas outro. No largo em frente, os comerciantes paravam as charretes com os produtos trazidos das chácaras para comercialização.
O projeto arquitetônico do Mercado Municipal foi feito por Miguel Asmussen, que optou por usar vigas metálicas importadas da Alemanha – que estão no local até hoje. “Quando a gente observa a estrutura do telhado do mercado, a estrutura do bloco central, são essas treliças metálicas”, explicou Cachioni.
O jornalista e historiador Cecílio Elias Neto afirma que o Mercado de Piracicaba foi um dos primeiros do interior paulista, surgiu antes dos mercados de Campinas e São Paulo, e chegou a ser referência para estes.
“Se a gente perceber, muito da linha arquitetônica dos mercados tanto de Campinas, quanto de São Paulo, acompanha a de Piracicaba.”
Comparação de foto antiga com foto recente do Mercadão de Piracicaba
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Reformas
Em 135 anos de história, o mercadão passou por várias reformas, algumas delas maiores. “O que houve de muita alteração é que os pátios que eram abertos receberam as construções laterais. Nessas construções da época de 1920 e 1930 a gente tem as características predominantes do bloco da Rua Dom Pedro II, da esquina, que tem as janelas em arco que eram imitações das janelas originais que ficavam na fachada da praça”, explicou Marcelo.
Já em 1958, na administração do prefeito Luciano Guidotti, uma grande reforma modificou quase completamente a fachada original, por conta da construção de um segundo pavimento, onde atualmente funciona a parte administrativa do mercado
Comerciantes do Mercadão de Piracicaba no século XX tinham visão de negócios pioneira
Pioneirismo e visão de futuro nas entregas
Os comerciantes que trabalhavam no mercadão já em meados do século XX mostravam uma visão de futuro que era pioneira para a época.
Segundo o servidor público aposentado Carlos Ambrosano, que foi responsável pela administração do Mercado Municipal por cerca de uma década, o local já tinha um sistema de “delivery” antes da popularização desse tipo de serviço.
“Há mais de 40 anos já tinha entrega à domicílio. Em uma época que telefone era precário e também a locomoção era complicada. Hoje nós temos uma frota de motoboys e tem acesso muito fácil à comunicação, então fica muito óbvio a gente ver o sistema de delivery. Há 40 anos atrás era uma visão de comércio evoluído que esses permissionários tinham.”
E mesmo antes alguns dos comerciantes já tinham essa ideia visionária de fazer entregas à domicílio. O cirurgião dentista aposentado Antonio Oswaldo Storel contou que, quando era criança, por volta da década de 40, ajudava sua avó que tinha uma banca de hortifruti no mercado.
“Quando eu estava de férias ou quando eu ia na escola de manhã e no período da tarde tinha livre, eu entregava encomendas que as pessoas faziam para a minha avó”, contou. Segundo Storel, na época, eram os doutores da cidade, pessoas ilustres, que faziam pedidos.
“Eu ressalto a visão de comércio que essas pessoas tinham. Eles não tinham formação profissional, eram oriundos de famílias de zona rural que vinham como permissionários, ou de pequenos comerciantes, e que conseguiam enxergar um futuro de mais de 40 anos para frente. Era intuitivo dessas pessoas”, completou Ambrosano.
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