Transporte por carroças e bebedouro de animais: como era o Mercadão de Piracicaba antes de ser modernizado


Mercadão passou por processo de modernização a partir dos anos 60, com uma grande reforma, e depois nos anos 80, com reestruturação. Carroças e bebedouro de animais: o Mercadão de Piracicaba antes de ser modernizado
Como era a vida no interior de São Paulo no início do século XX? Décadas depois da inauguração do Mercado Municipal de Piracicaba (SP), a rotina dos moradores da cidade no interior do estado era muito diferente dos dias atuais. Mas o Mercadão já era peça chave para o desenvolvimento do município, mesmo antes de ser modernizado.
Nesta semana, o g1 publica uma série de reportagens sobre o Mercado Municipal de Piracicaba. Construído em 1887 e inaugurado em 1888, o local foi palco para o surgimento de algumas das tradições mais antigas da cidade, que permeiam até os dias de hoje o cotidiano dos piracicabanos.
O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) não atesta que o Mercadão de Piracicaba é o mais antigo do estado, mas não identificou entre os que estão em processo de tombamento ou tombados, algum que tenha sido inaugurado antes.
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Em meados da década de 1940, quase 60 anos após ser inaugurado, o transporte de mercadorias ainda era feito por tração animal – com carroças e carrinhos puxados por cavalos. A estrutura do local era adaptada a isso, com bebedouros para os animais e locais para descanso.
Prédio do Mercado Municipal de Piracicaba e carroças
Câmara de Piracicaba
O cirurgião dentista aposentado, Antonio Oswaldo Storel, atualmente com 87 anos, conta que na infância costumava acompanhar a avó, que tinha uma mesa no Mercadão, no contraturno da escola. Nessa época, por volta dos anos 1945, a maior parte do comércio não era feito em boxes ou bancas, como nos dias atuais.
“A gente transportava com carrinho de tração animal, desde lá do bairro do Saibreiro [atual bairro Nova América], descia a Rua Dom Pedro I, que ainda não tinha pavimentação, com carrinho puxado por cavalo. Ia até o mercado, chegava, estacionava de ré na praça onde hoje é o estacionamento. O animal ficava ali parado”, lembrou.
Storel conta que em determinado horário do dia, ele era responsável por levar o cavalo para tomar água. “No meio da praça tinha um bebedouro. Era uma caixa elevada redonda onde os cavalos chegavam para beber água”, contou.
Bancas no Mercado Municipal de Piracicaba aproximadamente em 1960
IHGP/Divulgação
Bancas antigas
Além de se recordar dos detalhes de como era a comercialização, Antônio também se lembra de algumas bancas populares nos anos 40. “Em frente à mesa dela ficava a “Arca de Noé”, era uma loja que era uma casinha de madeira. Ao lado tinha a primeira mesa no descoberto, tinha tudo quanto era fruta.”
Ele lembra que a avó pedia para que o dono, senhor Segundo Bonassi, separasse caquis que não fosse vender para o neto, que gostava muito da fruta.
“Eu tenho hoje a fotografia muito clara do que era a comercialização nesse mercado.”
“Também tinha uma banca mais no meio do mercado, no coberto, que era a banca dos pães do senhor Castilho. E tinha umas vitrines na banca que ele colocava os pães ali dentro. E tinha um pão doce que eu adorava”, lembrou.
Mercado Municipal de Piracicaba
Caroline Giantomaso/g1
Modernização
E o Mercadão foi, de fato, um equipamento importante para o desenvolvimento da cidade. Nos final dos anos 1950, passou por uma grande reforma que modificou a fachada e modernizou as instalações. Já nos anos 1980, sob administração da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Sema), teve uma reestruturação.
“O Mercado Municipal era uma estrutura em que tudo que era relativo a mercado de hortifrutigranjeiros acontecia aqui. Nós tínhamos uma comercialização de varejo lá dentro e de atacado aqui na frente”, explicou Carlos Ambrosano, que trabalhou na Sema na época.
Ele conta que isso dificultava a formação de preços e prejudicava o comércio no local. Com a criação de uma secretaria específica para agricultura e abastecimento, o Mercadão se beneficiou e passou a se especializar no varejo.
“Foi feito um diagnóstico, um estudo, e isso mostrou que havia problemas nessa estrutura de comercialização. E hoje a gente vê uma estrutura de comercialização premium. Ele atende um nicho de mercado de uma forma plena.”
Segundo ele, especialização foi um salto para a evolução do Mercado até se tornar o que é hoje.
Banca de frutas no Mercado Municipal de Piracicaba
Caroline Giantomaso/g1
Administração
Atualmente o Mercado Municipal é administrado por meio de parceria público privada entre a prefeitura e a Associação do Comércio Varejista do Mercado Municipal de Piracicaba (Ascomep).
“A gestão dele é feita em parceria com a Ascomep. A gestão é feita pela associação e a Sema age como a secretaria responsável pela fiscalização dessa gestão”, explicou Eliane Souza, diretora do Departamento de Abastecimento da Sema.
Segundo ela, o Mercado atualmente trabalha com produtos de ponta. “Por ser um ponto turístico, tem um público diferenciado e trabalha com produtos diferenciados também”, afirmou.
Conforme a presidente da Ascomep, Thaís Gabriele, a associação é responsável pelas reformas e cuidados com o prédio, e nos últimos anos foram feitas várias manutenções. “A gente conseguiu fazer muitas melhorias, trocou o piso, trocou telhado, restaurou a fachada”, completou.
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