Justiça cita quadro de esquizofrenia e absolve acusado de matar dono de restaurante em Piracicaba; internação é determinada


Carlos Roberto Camargo, de 48 anos, foi esfaqueado e morreu no local. Churrasqueiro apontado como autor do crime trabalhava no estabelecimento e, segundo laudo médico, à época do ataque apresentava delírios e alucinações. Carlos Alberto Camargo morreu aos 48 anos
Reprodução/ EPTV
A Justiça de Piracicaba (SP) absolveu um acusado de matar seu chefe dentro de um restaurante da cidade, em 20 de março de 2023. A decisão foi tomada com base em um laudo médico que apontou que o réu, que atualmente está preso, possui quadro de esquizofrenia. Foi determinada a internação hospitalar por um prazo mínimo de três anos. Cabe recurso contra a decisão.
O crime aconteceu em um estabelecimento localizado no bairro Nova Piracicaba. O funcionário trabalhava como churrasqueiro no local havia oito anos. Ele foi preso em flagrante logo após esfaquear seu chefe, Carlos Roberto Camargo, que à época tinha 48 anos. Duas facadas atingiram as costas e o tórax da vítima, que morreu no local.
À Justiça, o acusado afirmou que, ao chegar ao restaurante, “pegou um peixe no fundo, voltou, entrou na cozinha, pegou uma faca, e não mais se recorda de quantas facadas desferiu na vítima”, conforme trecho da sentença, proferida nessa quinta-feira (6). Também afirmou que faz tratamento psiquiátrico desde o período entre 2007 e 2008.
Outro funcionário do restaurante também afirmou em depoimento que teve a mão ferida pelo réu ao tentar intervir nas agressões.
Dono de restaurante foi morto a facada em Piracicaba
Daniel Mafra/EPTV
A irmã da vítima relatou, também em depoimento judicial, que, pelas imagens capturadas pelas câmeras de segurança, o réu vê seu irmão e já sai correndo, pega a faca e o golpeia. Segundo ela, o acusado tinha uma relação normal de trabalho com os outros funcionários.
Funcionários do estabelecimento também afirmaram que estava tudo normal antes do ataque, que ocorreu no início de um dia de trabalho.
Em sua decisão, o juiz Luiz Antonio Cunha, da Vara do Júri e Execuções Criminais, citou que um exame de insanidade mental realizado no réu concluiu que ele apresenta histórico de esquizofrenia desde os 35 anos de idade e que, à época do crime, apresentava “delírios paranoides, alucinações auditivas e alterações comportamentais”.
“Diante desse quadro, atestou-se ser ele totalmente incapacitado para entender o caráter ilícito do ato e de determinar-se de acordo com esse entendimento, sugerindo, assim, a internação para tratamento em Hospital de Custódia, por tempo indeterminado, em decorrência de seu elevadíssimo grau de periculosidade”, acrescenta.
Funcionário de restaurante mata patrão a facadas em Piracicaba
Um médico que acompanha o réu há oito anos também prestou depoimento e afirmou que o diagnosticou como portador de transtorno psiquiátrico esquizoafetivo, que “lhe retirou inteiramente a capacidade de entender o caráter ilícito da conduta perpetrada”.
Com base nessas informações, o magistrado declarou o acusado como inimputável, que segundo o Código Penal é a pessoa que, por transtorno mental, é “incapaz de entender o caráter ilícito do fato”.
A internação hospital foi determinada por um prazo mínimo de três anos, para a “realização de exame de cessação da periculosidade”.
Carlos Alberto Camargo tinha 48 anos e foi morto por funcionário do próprio restaurante
Arquivo pessoal
MP diz que não vai recorrer
Em nota ao g1, o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), autor da denúncia na ação criminal contra o réu, informou que não vai recorrer da decisão, pois está acordo.
“O exame, realizado pelo Imesc [Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo], acusou que o réu era portador de transtorno psiquiátrico esquizofrênico. Fato corroborado por médico psiquiatra que o acompanhou por 8 anos e que deu testemunho durante a instrução”, destacou.
‘Uma fatalidade’, diz irmã da vítima
O restaurante onde ocorreu o crime é tradicional na cidade, segundo moradores. A vítima era muito conhecida por moradores do bairro.
“Piracicaba perdeu um anjo. O Carlos, não é porque é meu irmão, mas era uma pessoa que estendia a mão a todos […] Foi uma fatalidade o que aconteceu. A família vai sentir muito, os funcionários vão sentir muito”, lamentou Roberta Camargo, irmã da vítima, no dia do crime.
“Ele é uma pessoa que estendia a mão a todos”, continua a irmã da vítima. “Se perguntar pra qualquer um, vai falar: ‘nossa, o Carlos. Esse me ajudou, esse me tirou da rua, esse me tirou das drogas, esse me deu oportunidade’. Eu não sei o que aconteceu gente, não sei explicar. Depois capaz que a gente entenda um dia, mas no momento, eu não sei explicar.”
“Estamos muito chocados, porque era um menino muito querido, solícito da família inteira e infelizmente essa tragédia. Nós estamos muito abalados”, afirmou o empresário Juscelino Ávila, amigo da família, também à época.
Dono de restaurante em Piracicaba foi morto a facadas por funcionário
Reprodução/EPTV
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