Morte de ganhador da Mega-Sena: réus negam envolvimento no crime e juiz aguarda laudos do caso


Jonas Lucas ganhou R$ 47,1 milhões, assassinato foi em 2022 e cinco respondem por associação criminosa e extorsão mediante sequestro seguida de morte. Relembre detalhes do caso. Jonas Lucas Alves Dias, de 55 anos, foi assassinado em Hortolândia
Reprodução/EPTV
Os cinco réus no processo sobre o assassinato de Jonas Lucas Alves Dias, de 55 anos, ganhador de R$ 47,1 milhões na Mega-Sena foram ouvidos nesta quarta-feira (3) e negaram envolvimento no crime durante audiência realizada na 2ª Vara Criminal de Hortolândia (SP). O assassinato foi em setembro de 2022. Relembre abaixo o caso.
Os cinco acusados respondem por associação criminosa e extorsão mediante sequestro seguida de morte. O segundo crime, em especial, é o que tem pena mínima de prisão mais elevada no Código Penal.
De acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), o juízo que analisa o caso agora aguarda respostas de laudos e ofícios.
“Após a juntada dos documentos, será aberto prazo de 15 dias ao Ministério Público e, após, às defesas para as alegações finais”, diz, em nota.
O caso tramita em segredo de justiça. Na primeira audiência, em 9 de março, o juiz Christiano Rodrigo Gomes de Freitas ouviu 18 testemunhas por aproximadamente quatro horas. Entre elas, 13 foram indicadas pela acusação, e cinco pelas defesas dos réus. Os conteúdos dos relatos não foram divulgados na ocasião.
A vítima ganhou o prêmio em setembro de 2020, após realizar jogo em uma lotérica de Campinas. Nenhum dos presos assumiu participação nas agressões sofridas por Jonas Lucas, segundo a polícia.
Na primeira quinzena de fevereiro, o TJ-SP negou um pedido de habeas corpus e manteve os acusados presos de maneira preventiva.
Sem júri popular
O advogado criminalista João Paulo Sangion explicou que o caso não foi levado a júri popular uma vez que, embora a vítima tenha sido assassinada, a extorsão mediante sequestro se caracteriza como crime contra o patrimônio.
“Júri apenas crimes dolosos contra a vida, tentados ou consumados […] Embora tenha havido a morte, o intuito era agressão ao bem jurídico, patrimônio”, explicou.
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Quem são os presos?
Segundo a delegada Juliana Ricci, responsável pela investigação e indiciamento dos cinco no inquérito policial, a participação de cada um no crime ocorreu da seguinte forma:
Rebeca Messias Pereira Batista (24 anos): forneceu os documentos para abertura de uma conta bancária para onde foi transferido dinheiro retirado do milionário da Mega-Sena.
Roberto Jeferson da Silva, o Gordo (38 anos): responsável por abrir a conta com os dados de Rebeca, inclusive deu o endereço pessoal para abertura da conta. Também fez o saque de parte do dinheiro depositado na conta.
Rogério de Almeida Spínola (48 anos): apontado como comparsa de Gordo, sempre visto em sua companhia nos vídeos obtidos pelo Polícia Civil.
Marcos Vinicyus Sales de Oliveira (22 anos): após a abertura da conta pelo trio, teria dado o “start” para o crime. Seria o motorista da caminhonete S-10 vista no local onde o milionário foi sequestrado (o veículo ainda não foi apreendido). Ele nega que tenha arrebatado a vítima, mas confirma que, de posse do cartão e senha, foi até o banco habilitar o aplicativo em um celular, onde fez as transferências via PIX.
Marcos Vinicius Ferreira (22 anos): dono do Ford Fiesta preto que teria sido usado para sequestrar Jonas Lucas. Segundo a Polícia Civil, ele seria o responsável por manter o milionário sob ameaça, possivelmente com auxílio do revólver que foi apreendido com ele. O suspeito nega e diz que emprestou o carro para Vini.
A vítima foi deixada com sinais de espancamento às margens da Rodovia dos Bandeirantes (SP-348), em Hortolândia, e teve o óbito confirmado no hospital em 14 de setembro.
O crime
Segundo a investigação, o milionário saiu de casa na manhã de 13 de setembro de 2022 no Jardim Rosolém, em Hortolândia, para caminhar, como sempre fazia, e levou apenas carteira e documentos.
Estima-se que a vítima ficou cerca de 20 horas em poder dos criminosos, que retiraram R$ 20,6 mil da conta dela, por meio de saques e PIX, antes de abandoná-la na Rodovia dos Bandeirantes.
Jonas foi socorrido na manhã do dia seguinte às margens da estrada com sinais de espancamento. Ele foi levado pelo resgate da concessionária CCR Autoban ao Hospital Mário Covas, mas não resistiu.
Para a delegada que comandou as apurações, os suspeitos tinham conhecimento da situação financeira de Jonas Lucas e agiram por conta do prêmio. Os presos negam o crime.
A delegada rechaçou a versão apresentada pela defesa de alguns dos investigados, de que teriam apenas fornecido documentos ou agido com a intenção de cometer estelionato, e não extorsão mediante sequestro seguida de morte, que foi a linha de investigação da Polícia Civil.
“Investigamos todos eles como integrantes, todos tinham suas tarefas. Alguns dos presos alegam que iriam praticar crimes menores, como estelionato, mas o que temos até agora é apenas a conta aberta em que depositaram dinheiro da vítima. Não tem outra conta, não tem outras vítimas”, falou Juliana à época em que o quinto suspeito foi preso.”
Áudios
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Áudios obtidos pelo Fantástico mostram pedidos de Jonas Lucas para que a gerente do banco liberasse uma transferência de R$ 3 milhões a partir da conta dele, mas sem sucesso (ouça acima).
Os pedidos foram feitos quando ele já tinha sido sequestrado e estava sob o poder do grupo, que tentava extorquir dinheiro da vítima.
“Não chegou nada do comprovante, consegue agilizar isso pra mim?”, falou Jonas em uma das mensagens de áudio. “Tô aqui na fazenda, preciso fechar isso aqui hoje”, afirmou, em outro momento.
A delegada explicou que a transferência foi negada porque “o valor era irreal”. “Ele estava subjugado, disso nós temos certeza. Pede transferência bancária, que obviamente foi negada porque o valor era irreal para ser transferido sem ser presencialmente”, destacou. Imagens divulgadas pelo Fantástico também detalharam o trajeto de Jonas antes de ser sequestrado pelo grupo.
Irmãos escondidos
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Os irmãos de Jonas Lucas deixaram a casa em que moravam no Jardim Rosolém após o crime, segundo um amigo da vítima.
Jonas foi velado e sepultado em 16 de setembro, em despedida restrita que reuniu cerca de 50 pessoas, entre amigos e familiares. Um ônibus chegou a levar vizinhos para a cerimônia. O sepultamento ocorreu no Cemitério da Saudade, em Sumaré (SP).
“Depois do velório, não vi mais, não tenho notícia. Que resolva o caso o mais rápido possível. Nem se souber (o local), vou falar”, frisou.
Segundo a delegada, o ganhador da Mega-Sena tinha um núcleo familiar pequeno e restrito, uma vez que não era casado nem tinha filhos. Ele morava apenas com os irmãos, e os pais já tinham falecido.
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Conselho de amigos
Um amigo de Jonas Lucas contou ao g1 que várias pessoas aconselharam “Luquinha”, como a vítima era conhecida, a mudar de rotina e sair do bairro depois de virar milionário. Uma das aplicações que fez com o dinheiro foi reformar a residência que dividia com os irmãos, mas nada de luxo.
Segundo o homem, que preferiu não ter a identidade revelada, a vítima nunca quis sair do Jardim Rosolém e acreditava que nada aconteceria.
“‘Muda de lugar, Luquinha, vai para um condomínio fechado, muda a rotina’. Ele nunca quis”.
De hábitos simples, Jonas Lucas saía de casa todos os dias entre 5h30 e 6h e seguia até uma padaria do bairro. Na manhã do dia 13, acabou sequestrado, extorquido e espancado.
Lotérica em Campinas onde Jonas Lucas fez a aposta vencedora
Reprodução/EPTV
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